Criando um ambiente físico para pessoas com autismo
Os princípios interacionistas, responsivos, motivacionais e lúdicos tornam-se ainda mais eficazes quando integrados ao dia a dia da criança. Eventos diários como as refeições, os hábitos de higiene, a hora de dormir, o passeio no parque ou o mergulho na piscina representam ótimas oportunidades para encorajar o desenvolvimento social. Muitas crianças com autismo também necessitam de um ambiente físico especialmente construído para promover a interação e a aceleração do aprendizado. As orientações a seguir podem auxiliar a criação de um ambiente na residência, assim como adaptações que podem ser feitas no ambiente de uma clínica para terapias multidisciplinares visando o desenvolvimento de habilidades e o bem-estar das pessoas com diagnósticos do espectro do autismo. Ao final da página, encontra-se também um arquivo contendo algumas das adaptações que podem ser feitas no ambiente físico da escola, assim como a utilização de estratégias responsivas no ambiente social dos projetos de inclusão escolar.
Observe a sua criança, adolescente ou adulto com autismo e investigue suas preferências e necessidades sensoriais. Um Terapeuta Ocupacional especializado em Integração Sensorial poderá auxiliar na investigação e oferecer ideias que possibilitem uma maior personalização do ambiente de acordo com as necessidades de cada pessoa.
Como vimos na seção “Ambiente otimizado para a aprendizagem”, muitas pessoas com autismo tendem a apresentar dificuldades em processar os estímulos sensoriais intra-corpóreos e do ambiente, o que pode levá-las a se distrair pelos vários sons, imagens, texturas, cheiros e sensações em seu corpo. Quanto mais conseguirmos simplificar o ambiente sensorial de uma criança, mais fácil será para ela focar em interações sociais e no aprendizado de novas habilidades. O primeiro passo então é simplificar o ambiente para minimizar a exposição a um possível bombardeio de estímulos. Escolha um quarto da casa ou uma sala da clínica que seja mais silencioso e longe das principais atividades do local (TV, aparelhos de som, campainha, telefone, odores e sons da cozinha) ou das distrações vindas de fora da casa, como o barulho constante de uma grande avenida.
Instale duas ou três prateleiras. Ao manter os brinquedos, materiais, bebidas e alimentos na prateleira, oferecemos à pessoa com autismo um espaço organizado com menos distrações, e o chão e mesa livres para as atividades. Os brinquedos à vista, mas não ao alcance da criança, estimulam a criança a comunicar-se de alguma forma conosco para pedir pelos objetos que deseja. Podemos então ser responsivos e entregar a elas os objetos demonstrando a função de suas comunicações, e modelar para elas comunicações não verbais e verbais cada vez mais claras e complexas.
Mantenha no quarto apenas móveis duráveis e seguros, sem objetos que possam se quebrar ou causar qualquer risco à saúde. Os móveis e equipamentos que você utilizará dependem da idade e necessidades sensoriais de sua criança. Para uma criança mais nova que gosta de correr, pular ou escalar, aconselhamos que você encontre uma maneira segura de oferecer estas atividades dentro do quarto mais amplo. Um jeito de fazer isso é retirar toda a mobília desnecessária do quarto, mantendo-se apenas uma pequena mesa e duas cadeiras para atividades como desenho, escrita, massinha, pintura, jogos de tabuleiros, etc. Você pode então providenciar equipamentos como uma estrutura para escalar, uma pequena cama elástica, duas grandes bolas de fisioterapia, uma rede de balançar ou um balanço, um túnel de tecido, pufes e almofadas, um colchonete, objetos para um circuito de obstáculos, etc.
Estes equipamentos não são sempre necessários, mas podem ser úteis para algumas crianças e adultos. Para uma criança com menor atividade física ou mais velha, você pode providenciar uma mesa maior e lugares confortáveis para se sentar. Algumas crianças mais velhas ou adultos sentem muito prazer em atividades sensoriais nas quais são levadas pelo quarto em uma cadeira giratória ou dentro de um carrinho gigante – já trabalhamos com várias famílias e profissionais que construíram uma espécie de caixa de madeira com rodinhas e grande o suficiente para que uma criança ou adulto pudesse ser levado para passear dentro dela por todos os cantos do quarto ou da sala.
Recomendamos o uso de um espelho grande colado de forma segura na parede a partir do chão ou rodapé. A principal função do espelho no quarto é estimular e facilitar o contato visual indireto com a criança. O espelho também contribui para o aprendizado de consciência corporal da criança. E ainda outra função seria a de facilitar a observação e gravação das sessões devido à multiplicação dos ângulos de visão. Se a pessoa para a qual você está adaptando o quarto distrai-se bastante com o espelho, engajando-se a maior parte do tempo em comportamentos de isolamento e repetição diante dele, considere o uso de um espelho pequeno ou, por em determinado período, a ausência do espelho neste ambiente.
Muitas das crianças, adolescentes e adultos no espectro do autismo necessitam de informações que as auxiliem a compreender e a prever os acontecimentos do dia ou da semana. Quadros de rotinas visuais afixados na parede podem informar claramente a sequência prevista e ajudar a pessoa a sentir-se segura diante das transições de atividades e ambientes. Dependendo do estágio de desenvolvimento das habilidades cognitivas, emocionais e sociais, o quadro pode conter apenas as atividades daquele dia ou de toda a semana, e utilizar um destes tipos de representações: objetos representativos das atividades; fotos; figuras; fotos/figuras com palavras; ou apenas palavras escritas.
Para uma maior integração do trabalho de toda a equipe multidisciplinar de profissionais, e de pais e familiares que poderão fazer sessões responsivas com a criança ou adulto com autismo, recomendamos que as sessões sejam gravadas para que todos possam assistir às sessões dos colegas. A observação e gravação das sessões pode ser feita através de um sistema de câmeras ligadas a um computador fora do quarto.
Algumas crianças, adolescentes e adultos com quem trabalhamos participam mais de atividades interativas quando encontram-se em ambientes abertos como parques, playgrounds e piscinas. Se este for o caso da pessoa com autismo que você acompanha, invista nestes ambientes para promover seu desenvolvimento. Porém, lembre-se que estes ambientes requerem um cuidado maior para se manter a pessoa em segurança.
Para informações sobre os brinquedos e materiais do quarto, visite a página Brinquedos para crianças com autismo.
Clique aqui para ler sobre estratégias do estilo responsivo na escola.