Você já deve ter escutado a seguinte frase: O cérebro precisa ser emocionado para aprender. Pois bem, não vamos falar de estrutura de cérebro agora, mas é preciso saber que além de promover conexão genuína, está no cérebro uma das principais justificativas que nos fazem oferecer brincadeiras onde a motivação é intrínseca.
Mas o que é motivação?
Motivação é um dos pilares da nossa abordagem e se refere a propor atividades onde haja o envolvimento voluntário da pessoa com autismo. Queremos que a pessoa esteja inspirada e motivada pela interação social e para isso utilizamos algumas técnicas e estratégias que possibilitam que a pessoa com autismo esteja mais ativa na interação e tenha mais motivos para interagir conosco. Por exemplo: demonstrar afinidades de interesse, ser expressivo, utilizar todos os instrumentos do corpo, voz, expressão facial, ser agradável e respeitoso, oferecer comemorações às iniciativas sociais da criança – como olhares, sons, palavras e participações físicas. Usar adereços, óculos, pintura facial e ou chapéus divertidos também são ferramentas que podem estimular a motivação das pessoas com autismo.
Essas técnicas nos ajudam a nos conectar com a pessoa com autismo. Queremos mais do que propor oportunidades de aprendizagem: queremos inspirar pessoas com autismo a desejar mais interações sociais. Logo, fazemos convites divertidos para brincar. E convites não são uma ordem, são convites.
Motivação intrínseca e motivação extrínseca
Antes de falarmos sobre motivação intrínseca, gostaria de falar sobre a motivação extrínseca.
Motivação extrínseca é quando nós, adultos, solicitamos algo à criança diante da condição de que se ela fizer, ela ganhará algo externo. Geralmente o que a criança irá ganhar não tem conexão com a atividade corrente. Por exemplo: Se ela comer os legumes, ganhará sorvete de sobremesa; ou se fizer o dever de casa, poderá jogar vídeo game. Em nenhum desses exemplos nosso objetivo é ajudar a criança a compreender os benefícios e gostar de comer legumes, ou entender e compreender a necessidade e importância do dever de casa.
Vou compartilhar com vocês uma situação pessoal que me ajudou muito a perceber como a motivação intrínseca é a chave para o aprendizado e também nos oportuniza liberdade para desenvolver nosso potencial.
Eu fiz prova de direção duas vezes. Na primeira vez cheguei toda animada, e quando encontrei o fiscal, logo cumprimentei e não tive nenhuma resposta, ele apenas disse “pode começar”. Nenhum sorriso, cumprimento e nenhuma possibilidade de conexão. Resultado: eu sabia dirigir, mas o medo tomou conta e eu afoguei o carro 2 vezes. No segundo exame, quando encontrei um outro fiscal, ele logo perguntou meu nome, e sabendo que eu havia falhado uma vez, logo expressou que eu conseguiria dessa vez. Descobri que ele é avó de um garotinho com autismo, e logo essa afinidade de interesse entre nós tornou a nossa interação muito agradável para ambos. Realizei a prova com o mesmo empenho da primeira vez, mas dessa vez existia algo diferente, o processo foi muito prazeroso e agradável, o que permitiu que eu entrasse em contato com memórias afetivas positivas, e minha performance me levou a um bom resultado.
Quando associamos os desafios sociais da pessoa aos seus interesses e ações motivadoras, estamos promovendo e construindo memória afetiva em relação àquele aprendizado. O que nos leva a mais tentativas, respostas espontâneas e generalização de habilidades para outros contextos.
Retomando o exemplo da criança que não queria comer legumes, podemos tornar o ato de comer legumes mais motivador, oferecendo um modelo de alguém que come o legume e fica muito forte, feliz e saudável, e até mesmo associar com ações motivadoras. Por exemplo: quando eu como a cenoura eu fico forte e posso fazer cosquinha na minha criança, ou fico forte para ajuda-la a pular na bola de pilates.
Eu também posso também tornar o momento de fazer o dever de casa muito prazeroso para minha criança ao incorporar o seu personagem preferido e ajudá-la no dever. Fazer variações na voz, na expressão facial, usar chapéus e óculos fazem parte da composição da atividade. Comer legumes e fazer o dever de casa podem ser atividades nas quais a motivação é intrínseca quando ajudamos a criança a ter prazer e gostar da atividade por si, não necessitando de reforçadores externos.
É importante destacar a importância de se usar motivação intrínseca, principalmente nos estágios iniciais de desenvolvimento da criança com autismo, visto que ela pode apresentar como característica o interesse maior por objetos do que por pessoas ou por interações sociais, e utilizar estratégias de motivação extrínseca pode a longo prazo reforçar essa lógica.
Na live a seguir, Vanessa Maioral e Lincoln Macedo conversam sobre elementos que podem ajudar a pessoa com autismo a estar mais motivada durante as atividades realizadas com familiares, profissionais e amigos.
Esperamos que essas dicas possam ser úteis e inspiradoras para vocês que estão próximos de pessoas com autismo. Se quiserem saber mais sobre motivação intrínseca e autismo, acompanhe nossas redes sociais pelo Facebook e pelo Instagram.
Por Jaqueline França
Consultora Sênior Trainer da Inspirados pelo Autismo