O que é autismo
Autismo é a denominação dada a um conjunto de características derivadas de um desenvolvimento neurobiológico atípico. Há evidências de que esta diferença neurológica esteja presente desde antes do nascimento. No entanto, os comportamentos observados – através dos quais o autismo é diagnosticado – muitas vezes são detectáveis apenas a partir da idade de cerca de 9 a 10 meses. Entre as principais características do autismo estão alterações no desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação, interesses restritos, comportamentos repetitivos e um processamento sensorial diferenciado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo estejam no espectro do autismo. Os recentes números de estatísticas do autismo entre a população dos Estados Unidos e da Europa apontam para a existência de um aumento da prevalência do número de casos diagnosticados com autismo, provavelmente devido ao fato do diagnóstico hoje em dia ser mais abrangente (casos que antes não seriam considerados como pertencentes ao espectro do autismo hoje são) e ao fato de uma maior conscientização da sociedade e capacitação dos profissionais de saúde que estão melhor preparados para a identificação do diagnóstico.
A cada 2 anos, o CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, tem divulgado os resultados de pesquisas relacionadas à prevalência de autismo na população de crianças daquele país. Pesquisas realizadas através da coleta de informações de órgãos de saúde e educação dos EUA chegaram aos seguintes resultados:
- em março de 2012, O CDC publicou o resultado de uma pesquisa realizada até o ano de 2008, apontando para os números de 1 caso de autismo em cada 88 crianças de 8 anos nos EUA;
- em março de 2014, o CDC divulgou o resultado de uma pesquisa feita até 2010 com a prevalência de 1 caso de autismo a cada 68 crianças de 8 anos naquele país;
- em março de 2016, o mesmo órgão divulgou o resultado de uma pesquisa realizada nos EUA até 2012 com a mesma prevalência de 1 caso de autismo a cada 68 crianças de 8 anos;
- em abril de 2018, o CDC anunciou o resultado de uma pesquisa de 2014 realizada nos EUA com a prevalência de 1 caso de autismo a cada 59 crianças de 8 anos.
- em dezembro de 2021, o CDC divulgou o resultado de uma pesquisa nos EUA feita até 2018 com a prevalência de 1 caso de autismo a cada 44 crianças de 8 anos.
O CDC também divulgou os resultados de três pesquisas realizadas com um método diferente, de questionários respondidos por pais, e nessas pesquisas os resultados foram os seguintes:
- em março de 2013, o órgão publicou os dados de uma pesquisa realizada entre 2007 e 2012, informando a prevalência de 1 caso de autismo a cada 50 crianças de 6 a 17 anos nos EUA;
- em novembro de 2015, o CDC divulgou os dados de uma pesquisa de 2014 apontando para prevalência de 1 caso de autismo a cada 45 crianças de 3 a 17 anos nos EUA.
- em novembro de 2017, o CDC publicou os dados de uma pesquisa de 2016 relatando prevalência de 1 caso de autismo a cada 36 crianças de 3 a 17 anos nos EUA;
- em julho de 2022, o órgão publicou os dados de uma pesquisa de 2019/2020 com a prevalência de 1 caso de autismo a cada 30 crianças de 3 a 17 anos nos EUA.
O autismo atinge indivíduos de ambos os sexos e de todas as etnias, classes sociais e origens geográficas. A ocorrência é maior entre o sexo masculino, quase 4 vezes mais comum em meninos do que meninas (fonte: Centers for Disease Control, EUA, 2023).
No Brasil, estima-se um número de até 2 milhões de casos de autismo, e cerca de metade destes casos ainda não diagnosticados. O aumento dos casos de autismo diagnosticados no Brasil tem sido relatado por instituições ligadas ao atendimento de famílias de crianças com autismo em todas as regiões brasileiras.
Nos dias de hoje, o autismo é referido como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), nomenclatura que indica uma ampla variação na sintomatologia e graus de dificuldades ou habilidades. Os diagnósticos de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Transtorno Global do Desenvolvimento (TID, TGD, ou a sigla PDD em inglês), Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (TGD-SOE ou a sigla PDD-NOS em inglês) ou a Síndrome de Asperger deixaram recentemente de ser utilizados pela Associação Americana de Psiquiatria englobando todos os casos no diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) com diferentes níveis de desenvolvimento e graus de suporte.
O grau de suporte que uma pessoa com autismo necessita varia em uma escala de 1 a 3, sendo 1 o menor grau de suporte e 3 o maior grau de suporte.
Segundo a 5a edição do DSM (Manual de Estatísticas e Diagnósticos de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria), de 2013, devem ser preenchidos os critérios abaixo para o diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo:
1. Dificuldades na comunicação e interação social
Déficits persistentes na comunicação social e nas interações sociais em múltiplos contextos, manifestados das seguintes maneiras, atualmente ou no histórico do desenvolvimento (os exemplos abaixo são ilustrativos e não incluem todas as possíveis manifestações dos déficits):
- Déficits na reciprocidade social e emocional,estendendo-se desde, por exemplo: abordagem social atípica e dificuldade para alternar a vez em uma conversa; reduzido compartilhamento de interesses, emoções ou demonstrações de afeto; até a falha em iniciar ou responder às interações sociais;
- Déficits na comunicação não verbal usada para interação social, estendendo-se desde, por exemplo: dificuldade de integração das comunicações verbais e não verbais; até contato visual e linguagem corporal atípicos ou déficits na compreensão e utilização de gestos; até a falta total de expressões faciais e de comunicações não verbais;
- Déficits na criação, manutenção e compreensão de relacionamentos sociais, estendendo-se desde, por exemplo: dificuldades para ajustar o comportamento diante de diversos contextos sociais; até dificuldades em participar de jogos simbólicos com outras pessoas ou em fazer amizades; até a ausência total de interesse pelos colegas.
2. Padrões de comportamento
Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestados por ao menos duas das seguintes maneiras, atualmente ou no histórico do desenvolvimento (os exemplos abaixo são ilustrativos e não incluem todas as possíveis manifestações dos déficits):
- Comportamentos repetitivos ou estereotipados – motores, na fala ou na utilização de objetos (exemplos: movimentos físicos repetitivos; alinhamento ou manuseio repetitivo de objetos; ecolalia; uso de frases fora do padrão social);
- Resistência a mudanças, adesão inflexível a rotinas, ou padrões ritualizados de comportamentos verbais ou não verbais (exemplos: descontrole emocional diante de pequenas mudanças; dificuldade para lidar com transições; padrões de pensamentos rígidos; rituais para cumprimentar os outros; necessidade de fazer o mesmo trajeto ou comer a mesma comida todos os dias);
- Interesses altamente restritos e fixos que são atípicos em intensidade e foco (exemplos: forte apego a objetos incomuns, interesses excessivamente restritos ou persistentes);
- Hiper ou hiporresposta aos estímulos sensoriais, ou interesse incomum em aspectos sensoriais do ambiente (exemplos: aparente indiferença à dor e à temperatura; aversão a sons e texturas específicas; busca excessiva para sentir o cheiro ou tocar objetos; fascinação visual por luzes ou movimentos).
3. Sintomas na infância
Os sintomas devem estar presentes no início da infância (embora possam não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas capacidades, ou possam ser disfarçados por habilidades aprendidas em um período posterior na vida).
A Inspirados pelo Autismo vê cada criança em sua totalidade ao invés de focar apenas nas dificuldades da criança. Ao valorizar os talentos e motivações da criança você pode ajudá-la a superar suas dificuldades. Isto é amplamente aceito na educação de crianças de desenvolvimento típico. Esta noção tem sido ignorada em algumas abordagens educacionais para pessoas com autismo, onde procura-se afastar a criança de seus interesses e habilidades adquiridas por serem consideradas “obsessões”.
A velha perspectiva tem visto o autismo como uma desordem comportamental. Como conseqüência deste pensamento, as abordagens têm focado na mudança do comportamento, tentando eliminar os chamados comportamentos atípicos. A nova linha de pensamento vê o autismo como o desenvolvimento resultante de um sistema neurobiológico programado para operar de forma diferente. A conseqüência desta nova forma de pensar o autismo é um programa de desenvolvimento que busca oferecer um ambiente físico e social que leve em conta esta diferença biológica e que promova o aprendizado e o bem-estar de cada criança.
Profissionais de abordagens interacionistas têm visto durante as últimas três décadas que a aceitação e apreciação das atividades e interesses da criança auxiliam na construção de uma ponte que pode levar à interação social com uma criança com autismo. Através da interação social, muitas outras habilidades podem ser aprendidas pela criança. Estudos científicos demonstram o valor desta abordagem (ex: Dawson & Galpert, 1990; Kim & Mahoney, 2004; Mahoney & Perales, 2005 e Trivette, 2003).
Atividades interativas interessantes e divertidas podem ajudar crianças, adolescentes e adultos com autismo a desenvolver habilidades, a autoestima e o gosto pela aprendizagem.