O laboratório de Psicologia da Universidade de Indiana, nos EUA, está conduzindo estudos envolvendo a utilização de técnicas teatrais de improvisação para o desenvolvimento de pessoas com autismo. O laboratório quer verificar como estas ferramentas podem ser utilizadas para ajudar pessoas com autismo a compreender e a expressar emoções. Segundo a equipe, interpretar a linguagem corporal e as emoções dos outros pode muitas vezes ser desafiador para pessoas com autismo. Ao se comunicar, socializar e fazer amigos, nem sempre os sinais e a leitura desses códigos são captados facilmente pelas pessoas com autismo. Os pesquisadores investigam então formas de promover estas habilidades.
Rachel Magin, estudante de doutorado na Universidade, tem trabalhado com crianças de seis a nove anos com autismo de alto desempenho em uma aula especial para o desenvolvimento de habilidades sociais. A ideia é explorar as diferentes maneiras pelas quais as pessoas se comunicam. Por exemplo, “através de nossas expressões faciais, através do modo como nossa linguagem corporal mostra isso, ou apenas o tom de nossa voz”, afirma. O trabalho tem um foco bem objetivo: as crianças participam de sessões em que improvisam situações diversificadas de seu cotidiano, refletem sobre suas emoções e sobre como elas as demonstram, e isso as ajuda a se comunicar mais claramente em suas vidas. Para Rachel Magin, decifrar os códigos e pistas sociais pode ser comparado a usar uma língua estrangeira e “nossas crianças não necessariamente aprenderam essa língua”.
“A técnica [teatral] propicia um ambiente seguro, divertido e autêntico de aprendizagem.” Jim Ansaldo
Numa das sessões conduzidas pelos pesquisadores, uma criança retira uma frase de um envelope. Depois, a criança escolhe aleatoriamente um cartão contendo uma emoção. A criança lê a frase demonstrando a emoção descrita no cartão para os seus colegas da classe. Os colegas tentam decifrar qual a emoção expressa. Rachel conta que as vezes as crianças acertam a emoção rapidamente. Mas a encenação pode ficar intrigante quando a frase sorteada não expressa uma emoção mais óbvia. O garoto Jake, de nove anos, sorteia e encena a frase: Acabou! As crianças da classe reagem: “Triste”; “assustado”; “feliz”. E então Jake afirma: “Sim!” Para a pesquisadora que conduz a sessão, essa é uma grande oportunidade de aprendizagem. Ela pergunta para o grupo: “O que teria ajudado o Jake a mostrar que ele estava feliz? Uma menina de seis anos que não tem autismo, mas que participa da classe com seu irmão, dá um pulo gritando: “Eba, acabou!” Rachel explica para a classe: “Ok, então pular para cima e para baixo e fazer a voz ficar um pouco mais aguda e com um volume um pouco mais alto”. E as crianças acenam com a cabeça. A dinâmica da sessão continua com encenações de situações que podem causar ansiedade como, por exemplo, o primeiro dia de escola. Estas encenações podem ser especialmente importantes para as crianças com autismo que sentem ansiedade mais intensa e mais frequente que as demais.
Para Jim Ansaldo, também pesquisador da Universidade de Indiana, a técnica propicia um ambiente seguro, divertido e autêntico de aprendizagem. O pesquisador salienta que nesse ambiente a sensação que se quer passar é que os erros não importam. Nos EUA, além das sessões conduzidas no laboratório de Psicologia da Universidade de Indiana também acontecem alguns acampamentos de verão para adolescentes com autismo focados no uso de técnicas teatrais de improvisação. Ansaldo afirma que os programas específicos de improvisação estão crescendo e vê a ferramenta como uma tecnologia de conexão e comunicação humana. Janna Graf, mãe de Shaw, um garoto de oito anos que participa de uma das classes, acredita que a técnica tem ajudado seu filho. Recentemente, ela viu o filho se apresentar em um grupo da igreja: “Ele disse: ‘Meu nome é Shaw, eu tenho 8 anos de idade’, e então ele acenou com suas mãos para a próxima pessoa (deixando a entender que agora era a vez da outra pessoa se apresentar). Ele está aprendendo a esperar.” Depoimentos como o de Janna auxiliam os pesquisadores a avaliar se os aprendizados obtidos nas classes de improvisação têm se transferido para situações sociais reais. Os pesquisadores mostram-se motivados pelos primeiros resultados.
As técnicas teatrais de improvisação têm sido empregadas por outras instituições nos EUA, em formatos diferenciados, com o mesmo objetivo de promover as habilidades sociais entre pessoas com autismo. Por exemplo, no programa de teatro do Laboratório SENSE (Social Emotional Neuro Science Endocrinology, na Língua Inglesa), desenvolvido no Vanderbilt Kennedy Center no Tennesse, as pessoas com autismo formam pares com participantes neurotípicos e são motivadas e apoiadas a participar da apresentação de uma peça teatral. O grupo capacita crianças e adolescentes neurotípicos que atuam como mediadores – alguns dos mediadores são, inclusive, jovens atores. Durante a preparação da peça, os mediadores vão oferecendo modelos para as crianças com autismo sobre como agir na arena social, por exemplo, como iniciar e manter conversas ou como compreender o humor. Além das técnicas teatrais de improvisação, a abordagem oferece oportunidades para que as crianças com autismo participem da criação do roteiro e da caracterização dos personagens da peça, da execução dos papéis e de performances com coreografias e música.
De acordo com a Dra. Blythe Corbett, diretora do Vanderbilt Kennedy Center, os estudos científicos conduzidos têm mostrado impactos positivos no desenvolvimento das pessoas com autismo. Uma de suas pesquisas publicada no Journal of Autism and Developmental Disorders envolveu 30 jovens com autismo, com idades entre oito e catorze anos. No estudo, 17 jovens participaram do grupo experimental e 13 participaram do grupo controle. O trabalho durou dez semanas e os resultados indicaram que os jovens do grupo experimental apresentaram ganhos na capacidade de identificar e lembrar rostos, aumento das interações com outras crianças fora do ambiente de tratamento e melhoria na comunicação social em casa e na comunidade. Para Corbett, ao final do processo o que se tem é a apresentação de uma peça em que participantes compartilham o palco em uma colaboração única entre arte e ciência. Corbett considera que os colegas mediadores possuem a capacidade de se conectar e ensinar às crianças com autismo várias habilidades sociais, “E, em relação às técnicas de atuação teatral que ampliam a habilidade e a motivação para se comunicar, os dados sugerem que podemos promover mudanças duradouras na forma como as crianças com autismo percebem e interagem com o mundo social”.
E no Brasil? Por aqui, também é possível encontrar iniciativas em que técnicas teatrais de improvisação para promover as habilidades sociais de pessoas com autismo são empregadas. O Projeto Aut da Oficina dos Menestréis de São Paulo começou em 2013. Os participantes atuam como atores, desempenhando papéis que envolvem coreografias, música e humor. Em sua terceira edição, ano passado o Projeto Aut apresentou uma peça inspirada na programação das rádios, com a participação de pessoas com autismo entre 12 e 28 anos. Os atores representavam locutores que ofereciam ao público cenas divertidas e irreverentes por meio da “Rádio ZYBem Bom”. Conheça mais sobre o projeto e assista trechos das peças visitando a fanpage do grupo no Facebook.
Quer aprender mais? Na Inspirados pelo Autismo, temos utilizado em nossas sessões com crianças, adolescentes e adultos com autismo ferramentas, como a do teatro de improvisação, capazes de promover a comunicação, a flexibilidade e a interação social. Em nossos cursos, você pode aprender a elaborar atividades divertidas que promovem as habilidades sociais de pessoas com autismo. Preparamos um PDF com ideias de atividades divertidas que você pode baixar gratuitamente para brincar com sua criança enquanto a auxilia a desenvolver suas habilidades. Clique no link abaixo para receber seu arquivo.
32 comentários em “Técnicas teatrais para o desenvolvimento de pessoas com autismo”
o conteúdo é muito bom e vale apena ler
Gostei muito! são as experiencias do cotidiano de família que tem pessoa com autismo, que ajudam muito outras famílias! meu filho tem 27 anos, tem paralisia cerebral,(sofreu anoxia de parto) foi diagnosticado autista, aos seis anos de idade, e sempre teve medo de fogos e balões! hoje ele já conhece o barulho que antecede os fogos, e fica dizendo, “quer não”, e falamos para ele não ouvimos nada, e os fogos começa, conversamos muito, explicamos que é passageiro que logo acaba. Mas, quando é o dia todo,
ele fica até sem comer, o dia todo trancado no quarto. É preciso colocar musica, com o som alto, para amenizar o som dos fogos, e mesmo assim ele não saia para comer. Nas campanhas políticas ele até esmagrece. É necessário levá-lo a um sítio para ter contato com a natureza e relaxar, porque o sistema nervoso dele fica muito abalado! nunca se acostumou com os fogos e estouro de balões (bexigas). Já fizemos todos exercícios possessíveis, más não se acostuma.
Muito interessante, será mais uma ferramenta no auxilio do trabalho. até mesmo para a estimulação. gostei muito do artigo, vou continuar a acompanhar essa nova pesquisa. obrigada, um abraço
Gostei muito de todas as brincadeiras,são ótimas!!!!!!!
Olá pessoal! Quero agradecer muito por todas as matérias inspiradoras, pois, eu sinto segurança e isso tudo está sendo muitíssimo importante para ajudar meu filho, obrigada! Deus abençoe sempre!!!
Gostei da matéria, sou terapeuta ocupacional e ainda não havia trabalhado com autista. Mas nos dias de hoje estou tendo a oportunidade de trabalhar e conviver com essas crianças. Adorei saber que a cada dia que se passa podemos estar por dentro de novas técnica para melhor atender esse publico. Espero poder receber sempre que puder materiais a respeito.
Ótimo!!!!
Muito grata pelas dicas, pela dedicação em nos auxiliar. Grata mesmo!
ótimo, vamos saber como lidar com meu netinho
Que bom que existe profissionais que passam pesquisas e materiais sobre autismo. Sou pedagoga, tenho dois casos de autismo na sala de alfabetização. Um leve e um médio alto. Leio muito sobre o assunto, mas a pressão é um pouco demais das mães. Uma, inclusive não aceita. Obrigada.
Gostei muito da matéria e da apostila. Tive a oportunidade de trabalhar jogos teatrais com crianças com dificuldades de aprendizagem
no ensino regular.E apesar do projeto ter sido por pouco tempo , obtivemos respostas muito positivas como melhoria da auto estima, da comunicação, da confiança, da motivação para aprendizagem.
gostaria muito de agradecer ao grupo inspirados pelo autismo , por compartilhar seus estudos conosco, mais que um aprendizado é uma ação solidária conosco. parabéns
Muito bom amei tudo, eu sou estudante de Pedagogia e trabalho com crianças autistas, tudo que fala sobre esse assunto mim chama muito atenção, gostaria de saber se pretende vir à Recife PE para ministra esses cursos maravilhosos.
Gostei muito do artigo e também do material. será muito válido
quem escreveu o conteudo?? achei bem interessante e abordei um pouco no meu artigo cientifico
Oi Ana Clara, boa tarde! Que ótimo que gostou de nosso artigo! A Autoria é da equipe da Inspirados pelo Autismo.
Não encontrei o link. É possível me enviar por e-mail? Grata
Oi Adriana, boa tarde! Enviamos aqui o link do arquivo com ideias de atividades: http://conteudo.inspiradospeloautismo.com.br/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo
Muito bom!
Gostei muito!
Olá
Não encontrei o link para baixar a apostila, vocês ainda estão disponibilizando? Queria muito.
Oi Kaline, por favor, a que apostila você se refere?
Oi Kaline, boa tarde! Enviamos aqui o link do arquivo com ideias de atividades: http://conteudo.inspiradospeloautismo.com.br/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo
Olá! Amei o texto, só não encontrei o link para baixar o PDF… gostaria muito! Pode me passar?
Oi Juliana, boa tarde! Enviamos aqui o link do arquivo com ideias de atividades: http://conteudo.inspiradospeloautismo.com.br/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo
Obrigado por compartilhar esse conteúdo, é muito válido para quem está iniciando os trabalhos com autistas. Poderiam enviar esse PDF que mencionam ao final do texto com sugestões de atividades para mim? Desde já agradeço muito!
Oi Daniel, boa tarde! Enviamos aqui o link do arquivo com ideias de atividades: http://conteudo.inspiradospeloautismo.com.br/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo
Olá! Gostaria de saber sobre a apostila, pfv.
Oi Tess, boa tarde! Enviamos aqui o link do arquivo com ideias de atividades: http://conteudo.inspiradospeloautismo.com.br/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo
Gostaria muito de ter acesso a apostila mas não encontrei o link. Poderia me enviar? Grata.
Oi Andreia, boa tarde! Enviamos aqui o link do arquivo com ideias de atividades: http://conteudo.inspiradospeloautismo.com.br/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo
Oi Pessoal, como estão? Gostei muito do ocnteudo, mas o link não está mais disponivel. vocês ainda tem o material para compartilhar? Muito obrigada!
Oi Marianna, tudo bem? Você consegue visualizar as atividades nesta página do site: https://www.inspiradospeloautismo.com.br/a-abordagem/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo/